terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Onde você estava?

Esse ano completará cinco anos que você se foi, e, sinceramente, não sinto tanto a sua falta, quanto senti durante muito tempo enquanto você estava vivo. No início, eu me senti até um pouco estranha e até culpada por não sentir saudades de você, como sempre pensei que poderia sentir, mas no fundo, eu sempre soube por que me sentia assim. É como se você viesse morrendo aos poucos, ao longo dos anos, pois sempre estava distante, vivendo sua vida, viajando, sem querer lembrar que tinha dois filhos aqui, mesmo quando dizia que estava com saudades. Tivemos momentos felizes mas que diante de tantos "abandonos", tornaram-se insignificantes. Onde você, quando eu adoecia? Onde você estava quando eu sentia medo? Onde você estava quando eu estava feliz por ter conseguido "uma vitória"? Onde??? Você não parava perto de mim para perguntar: Filha, o que você tem? O que você quer? Você só parava perto de mim para me cobrar atitudes que eu não tinha condições de assumir, só parava perto de mim para falar de você e nunca para me ouvir. Foram anos e anos assim, era como se minha vida, meus desejos e sonhos não interessassem a você, e com certeza não interessavam. Por muitos e muitos anos eu não quis enxergar como era você de verdade, porque me contentava com as "migalhas" do seu carinho. Eu posso não ter sido a filha que você sonhou, a sua "linda princesinha", mas pode ter certeza que você também não foi o meu "herói", aquele que me protegeria de tudo e de todos. Graças a isso, e claro a outros fatores também, tornei-me uma pessoa insegura, imatura e até covarde frente à vida. Só eu sei o esforço que fiz e faço para me manter em pé. Quantas e quantas vezes brigamos, discutimos, com você jogando na minha cara minhas fraquezas, minhas incapacidades. É mais fácil, não é?Falar dos erros dos outros para encobrirmos os nossos. Isso mesmo, eu tive e tenho fraquezas e erros como todo mundo, mas tudo que sou, o ser humano que sou hoje, tem muito da educação, da influência e do exemplo que recebi. Se hoje tenho "medo" da vida, sou meio perdida, é graças à falta de orientação que não tive quando necessário. Hoje, pensando em muitas cobranças que você me fazia tenho vontade de gargalhar. Por que? Por que quem me cobrava, fez o que mesmo da própria vida? Viveu a vida corretamente? Trabalhando? Sustentando os filhos? Com uma vida estruturada? NÃO. Muito pelo contrário, não é? Não está sendo fácil escrever tudo isso para você, mas estou fazendo com a intenção de perdoá-lo por não me amar como eu merecia ser amada por você. Espero, sinceramente, conseguir perdoá-lo um dia. Enfim, apesar de tudo, espero que você esteja em um bom lugar e que tenha conseguido paz, já que não conseguiu tê-la em vida.
Fique em paz, Pai.


Autoria: Isaleao.

Um comentário:

  1. Isa Leão, ah, Isa Leão... Você é danada!!!

    Li sua postagem e lembrei de imediato do meu pai, igualmente ao seu, tinha um imenso apreço paternal por mim. Ainda me lembro (como esquecê-lo) dos nossos passeios e nossa vida de pai e filho.

    Agradeço a você por me fazer voltar as lembranças do meu pai como se fosse um acontecimento recente... Ainda sinto ele ai!!!

    Bjos,
    Leon

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