Nasci com Mielomeningocele (Spina Bífida) e Hidrocefalia. O que são:
Mielomeningocele_ Lesão medular congênita, que a depender da extensão da lesão pode ocasionar sequelas diversas.
Hidrocefalia_ Aumento do líquido intra-craniano. Se não controlada a tempo, leva a óbito.
No meu caso, a mielo atingiu meu equilíbrio para andar solta, me fez ter incontinência urinária (controlada com idas ao sanitário de tempo em tempo). Com 15 horas de nascida, fiz minha primeira cirurgia para fechamento da mielo. Depois com 3 meses fiz outra para controle da hidrocefalia, colocando válvula no alto da cabeça(hoje já não tem mais função), depois de um tempo fiz mais uma para soltar os pés que nasceram presos para dentro, mais um tempo e coloquei válvulas nos ureteres para controlar o refluxo da urina, com 7 anos fiz mais uma cirurgia, dessa vez para corrigir a luxação do quadril pois nasci com os fêmures deslocados, não sendo bem feita essa cirurgia, fiz outra com 9 anos para correção da primeira, no RJ.
Durante esse período da infância, fiz fisioterapia no IBR (Instituto da Bahia de Reabilitação).
Só depois da segunda cirurgia para a correção da luxação no quadril que pude finalmente andar apoiada no andador. Mas mesmo tendo passado por tudo isso no início da infância, tive e tenho vida normal. Fui uma criança como outra qualquer, estudei, fui a todos os lugares que uma criança vai: praia, cinema, teatro, parque, acampamento. Sempre rodeada da família e amigos. O amor e o apoio da minha família nunca me faltou.
Apesar dos meus pais se separarem quando eu era criança ainda, nunca me senti desamparada, pois tinha minha mãe sempre ao meu lado e a falta de meu pai era muitas vezes superada por tios.
E, dois anos após a separação, Deus colocou aquele que seria meu segundo pai, para falar a verdade, meu verdadeiro pai, que foi meu padrasto, não podia ter tido mais sorte, pois ele estava comigo para todos os momentos. Com minha mãe, que é uma verdadeira leoa para defender os filhos e meu padrasto ao meu lado não tinha como me sentir desprotegida. Nem mesmo quando sentia o preconceito de algumas pessoas, sim, passei por situações de preconceito na escola, com colegas dizendo que não gostavam de mim por eu não andar, por eu ser doente, por eu ser diferente, com professores que cobravam de mim mais do que podia fazer.
Enfrentei olhares, piadinhas, risinhos, comentários maldosos...
como se eu não tivesse o direito de estar ali naquele lugar. Mas como venho de uma família " que não leva desaforo para casa " aprendi a superar e a transformar o sofrimento em respostas desaforadas ou em lições de moral, a depender da situação, e assim, fui aprendendo a lidar com todo tipo de gente. Desde os maldosos que me machucavam com palavras até os desinformados do que seria uma pessoa com deficiência. Na adolescência isso ficou mais doloroso, pois já tinha total consciência das minhas limitações e da maldade alheia. E para quem já passou por essa fase, sabe como é complicado não sermos aceitos no grupo. Era dolorido perceber que as meninas me olhavam com ar de superioridade pois se achavam melhores, mais interessantes do que eu por não precisarem usar um andador para andar, e que os rapazes não conseguiam enxergar que atrás daquele andador existia uma adolescente como todas as outras, com sonhos, desejos e capacidade de se apaixonar como qualquer outra, sendo assim elas me olhavam como se eu fosse inferior e eles como aquela que só podia ser "amiga", ou pior, "melhor amiga".
O que ninguém sabia ou não queria saber é que eu fingia não perceber nada disso para tentar ser feliz. Não foi fácil admitir para mim mesma que todos estavam errados pois sem perceber eu vesti o personagem que eles me deram da " melhor amiga " , da " menina feliz ", até o ponto que não aguentava mais e precisei de ajuda para encontrar a verdadeira Marisa, tive que procurar um psicólogo/psiquiátra.
Foi a melhor coisa que fiz, com ele consegui me conhecer, colocar certas coisas no seu devido lugar e daí consegui ser feliz. Passei a me dar mais valor, a me ver não só como deficiente físico mas sim como pessoa e principalmente como mulher.
Quando me reconheci como mulher, passei a me ver como um todo e não só da cintura para baixo. Sempre fui vaidosa, mas escondia o que eu tenho de " perfeito" e fazia questão de mostrar o que eu tenho de " imperfeito ", ou seja, deixei de usar blusas fechadas com shorts e minissaias e passei a usar blusas decotadas, de alcinha com shorts e minissaias. Entenderam a diferença?
Hoje, eu não sou apenas uma deficiente físico e, sim, uma mulher que tem uma deficiência física. Mas mesmo tomando essa consciência não pensem que foi ou que é fácil lidar com meus medos, inseguranças, pois não é. Até eu conseguir realmente me sentir mais segura em relação a mim " penei " um bocado. Senti muita solidão, tinha uma carência monstra. Até que um dia conheci aquele que seria meu primeiro namorado, isso eu já tinha 30 anos, isso para muitos é tarde demais, mas para nós deficientes não é tão raro acontecer, principalmente para aqueles que não tem uma auto-estima lá essas coisas como eu ....rsrsrs.
Ficamos 1 ano juntos oficialmente e uns 2 anos tentando se encaixar de novo. Durante o primeiro ano, fui feliz em muitos momentos com ele, aprendi muito sobre o que é ser mulher num relacionamento, aprendi a ver o que eu aceito ou não, o que engulo ou não de sapos. E olha, que engoli vários. Terminamos, ficamos alguns meses afastados, até que nos reencontramos, conversamos e resolvemos voltar, mas não foi mais a mesma coisa, eu estava passando por uma fase difícil familiar, e além disso, não conseguia mais confiar e acreditar nele, fui segurando o namoro na verdade para não me sentir mais sozinha e perdida do que já estava, até o dia em que ele disse que queria terminar. Terminamos em definitivo.
Fiquei 5 anos sozinha tendo meus altos e baixos até que há dois meses reencontrei outro homem a quem conheci enquanto estava namorando, que me fez acreditar que posso ser feliz de novo. Estamos namorando há 1 mês e estou realmente muito feliz.
Farei de tudo para que essa felicidade dure por muito tempo.
Autoria : Isaleão.
É, prima querida, como diz a música "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...", ainda mais com essa história de luta e superação como tem sido a sua. Você é uma vitoriosa. Tem muita força. Apesar de ter convivido muito com você na nossa infância e ter acompanhado as suas rotinas e lutas, eu realmente não tinha consciência da dimensão da sua luta, das batalhas diárias, dos processos internos, nem mesmo sabia da mielomeningocele e hidrocefalia, que fiquei sabendo recentemente com a vinda de vocês para aqui, durante as conversas que tivemos. Eu sinto muito por isso. Como eu já disse e você também diz aqui, convivemos na nossa infância normalmente como todas as crianças, brincávamos, passeávamos, riamos muito... (Lembro que você era muito risonha, como ainda é... besta para rir... rsrsrs......), então eu via a minha prima, a Zinha, e não uma cirança com deficiência, apesar de perceber, até onde uma mente infantil podia perceber (naquela época muito menos, porque hoje as crianças estão cada vez mais espertas do que as gerações precedentes), algumas limitações físicas, como para correr, por exemplo. Assim, eu cresci trazendo comigo aquelas vivências e recordações e como não tivemos a mesma convivência habitual, nas outras etapas das nossas vidas, não tivemos a oportunidade de compartilhar mais as nossas vidas e intimidades.
ResponderExcluirFico feliz em ver uma mulher forte e corajosa, não somente por ter vencido e por estar vencendo todas essas batalhas, mas por estar tendo a coragem de reconhecer e de enfrentar as suas fraquezas e monstros internos, assim como de se abrir e de se mostrar como você é. Principalmente de colocar para fora toda essa sensibilidade, feminilidade, sensualidade... Se mostrando Mulher. E fico feliz também por você compartilhar conosco a sua história e suas intimidades e, claro, por esse novo amor.
É muito bom ver esse crescimento seu, prima. Esse descobrir-se.
Quanto ao seu novo amor, vibro positivamente para que vocês sejam felizes e construam uma linda história de amor. Mas nunca se esqueça: A felicidade vem de dentro. Busque a felicidade em você. Se ame primeiro, para poder amar e fazer feliz o outro. Como bem nos disse Gandhi: "Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho".
Te amo, prima querida!
Beijos de sua prima que te admira muito!
Isabela.
AMO VOCÊ PRIMA, AMIGA, IRMÃ LINDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirRETADA!!!!!!!!!!!!!AMEI SUA HISTÓRIA!!!!!!!!!"CONHECIA", MAS CONTADA POR VC É SHOW!!!!!!!!!
OUVI MINHA PROFESSORA PSICOLOGA DIZER QUE NA VIDA PRECISAMOS APRENDER A "LIGAR" O : FODA-SEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!! A SALA TODA CAIU NA GARGALHADA!!!!!!!!!!!!
QUE BOM QUE APRENDEU A LIGAR O SEU LOGO!!!!!!!!!!!!
TE AMO!!!!!!!!!!!
VIVI
Que lindo prima!Parabéns!!!Quando damos o primeio passo,que só depende
ResponderExcluirde nós, o mundo fica diferente, pois os outros não nos ditam mais como
ser ou agir.Quando amadurecemos ou melhor evoluímos, nos descobrimos e
assumimos como somos e fica mais fácil tirar todas as máscaras que
colocamos ao longo da vida.Sim, nós que colocamos, afim de agradar
pessoas que estão longe de nos conhecer, pois ainda nem se conhecem e
muitas vezes recusam-se .Quando digo aceitar-se ,não me refiro a
deficiencia física, mais uma deficiencia interna que todos temos.Somos
imperfeitos sim, e que bom, pois temos o que fazer ao longo da
vida.Fico feliz que evoluiu.Acho que meu pai tinha razão:vc é de
marte, o que ele não sabe é que eu também sou.Bjs, TE AMO como é.Sem
máscaras
Bruna.
É AMIGA e colega, Te conheço bem de perto e sei que você foi pioneira nesse assunto.
ResponderExcluirJá a mim, dizem que sou transgressor, pois faço brincadeiras e até piada (humor negro, talves?)da minha deficiencia. Mas a verdade é que não me sinto um "deficiente" tenho minha vida normal, alías bem normal: Estudei, me formei, trabalho fazendo o que gosto, amo (tenho essa riqueza numa fonte que nunca seca), escrevo, desenho e tenho uns blogs, onde exponho minhas opiniões sobre tudo!!!
Sei que você é uma guerreira e como guerreira "batalha" pouca é bobagem!!!
Do amigo de agora e sempre,
Leon
PARA VC AMIGA E VELHA GUERREIRA, ESTAMOS AI PRO QUE DER E VIER, ATÉ MESMO PRA FUGIR DE CASA SE ASSIM VC QUISER. RS.RS.RS.RS.R.S.R...BRINCADEIRINHA....... SEMPRE TIVE VC NO CORAÇÃO, AMIGA DE FÉ E COMPANHEIRA. VC É ESPECIAL E VC SABE DISSO !! DEUS TEM O MELHOR PRA VC, PORQUE VC MERECE E QUER ISSO. ENTÃO O UNIVERSO CONSPIRA... SEJA FELIZ SEMPRE HÀ.... PRA TE DIZER, NUNCA VI DIFERENÇA NENHUMA EM VC !!! A NÃO SER A DE SER A MELHOR ....
ResponderExcluirUM GRANDE BEIJO.
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ResponderExcluirA vida mostra na sua "fauna humana" guerreiros e covardes de todos os tipos. Gente capaz e gente fraca. Gente que ama viver e que odeia estar vivo. Gente que sorri pois enxerga a grandeza da vida e os que choram, se fecham, agridem por tantas bobagens. É a evolução. O caminho que temos que percorrer e que cada um dentro da sua forma de ser, enfrenta.
ResponderExcluirDesnecessário dizer onde Marisa ou IsaLeão se encontra e se encaixa. O seu depoimento traduz tudo. E nós que a conhecemos, mesmo os que conviveram pouco no dia a dia como eu, em um pedaço das nossas vidas, temos a certeza.
Parabéns querida! Que Deus mantenha em você isso que é raro e belo: Essa linda energia que te faz ser grande, guerreira e linda!
Do seu amigo relapso. Do seu amigo poeta, maluco-beleza e fã de sua postura de vida e jeito de ser! Um beijão!
Aos que leram e aos que ainda irão ler esse texto, digo que o último namoro citado não vingou.
ResponderExcluirMas estou bem e continuo à procura de um homem que me ame de verdade.
Beijos a todos que me deixaram esses comentários emocionantes e aos que ainda irão deixar outros...rsrs.